Essa menina não espera. Não tem tempo a perder. Vive logo. Antes
que passe. Não da pra esperar. Ah! Essas filas. Essa gente. Tumultuando seu
mundo perfeito. Passa logo, sai da frente. Não insiste. Irrita tanto. Não pergunta.
Não espera. Que ela só passa e não quer parar pra explicar. Por fora tranquila,
por dentro uma tempestade. Nem se imagina chovendo tanto. Some. Vai embora. Volta quando quer. E quando
lhe convém. Já sabe o que quer não precisa que digam nada. Corre na frente. Não
olha pra trás. Some outra vez.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
Pedido
Pede logo! Papai Noel é um só! Pensa. Escolhe. Escolhe. Já tem
tudo. Pede algo novo. Não precisa. Espera. Espera. Não pode demorar. Pede uma viagem.
Papai Noel entrega passaporte junto? Pede algo simples. Escreve logo. O tempo. Ele já vai. Não espera. Não para. Sempre
marchando suave, mas veloz. Mal chegou e já se vai. Nem uma palavra. Uma linha
escrita. Por que tanta demora? As palavras não ajudam. Não há nada pra ser
dito. Melhor não pedir nada. Papai Noel não vai chegar sem a chaminé.
Na árvore um embrulho pequeno. Com um bilhete: “não posso
entregar o amor, mas posso desejá-lo a você. Obrigado pelos biscoitos.” Em uma
só linha escreveu e pediu. Recebeu. Como uma coisa pode significar tanto. Que nem
o Papai Noel conseguiu trazer! Mas está ali sua resposta. Nenhum presente pedido,
nenhum recebido. Mas uma resposta completa. No próximo ano peço algo que já
tenho mesmo.
terça-feira, 24 de dezembro de 2013
Só deixa passar
Acordei com o coração triste. Apagadinho. Batendo fraco. Preto
e branco. Em uma manha que se olhasse com os olhos era linda cheia de luz e
calma. Mas com o coração naquele dia era cinza, fria e conturbada. Foi uma
noite difícil. Deveria ter trocado o travesseiro por um balde. Tive que torcer
ele depois. Não é fácil ficar indiferente. Fingir que passou. E duro dormir
esperando só que tudo passe. Volte a sorrir. O coração não esquece. Não acalma.
Reclama baixinho e escorre pelos olhos. Inspira. Expira. Volta a viver no mundo
cinza até a dor passar. Ou se aquietar. Mania de dor querer ser tão teimosa. De
não largar o coração. De esfriar a alma. E de querer só dormir outra vez. Para ver
se passa.
No outro dia a dor já largou o coração e deixou uma
marquinha. Não reclama tanto, já vê algumas cores. Sofre mais baixinho. Só se
ouve no silêncio. Então procura por barulho. Não se deixe ouvir. Acalma. Não dói
mais. Espera que passe. Dorme outra vez. Deita. Sonha. Não acorda. O aconchego
cura. Ouvi. Espera! Nem da mais pra te ouvir. Sorri. Passou. Claro que doeu,
mas passou. Sempre passa. Espera. Se acalma. Não se desespera. Que sempre
passa. Afinal, tem tantos outros dias pra acordarem cinzas. Se recupera logo então,
para os coloridos durarem mais.
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